ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal
ALBERTO BITTENCOURT - Palestrante, conferencista, motivador, consultor, escritor, biógrafo pessoal

sábado, 20 de junho de 2020

MEU ENCONTRO COM A CIENTOLOGIA


Meu  Encontro  com  a  Cientologia

Alberto Bittencourt - dez 2012


     

            Eu cursava o então chamado curso científico do CMRJ - Colégio Militar do Rio de Janeiro. O grande mestre e amigo, professor Hermógenes, o maior autor de livros de YOGA do Brasil, convidou um grupo reduzido de alunos para visitar uma pessoa que iria apresentar uma nova ciência do comportamento humano, destinada a aprimorar os conhecimentos do homem, a promover a sua evolução e a melhorar o seu comportamento aqui na Terra. 
               Foi assim que conheci o Dr. Antônio. Ele morava sozinho em um apartamento no Flamengo. 
           No dia marcado, fomos eu e o Ysmar, colega intelectual, muito estudioso, que depois formou-se em Engenharia Eletrônica no ITA, fez PHD nos Estados Unidos, foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da COPPE.
              O Dr. Antônio era um homem magro, com a fisionomia, os gestos e a fala extremamente tranquilos. Notamos que ele não possuía uma só ruga de expressão na testa, bem lisa e sem marcas, como se tivesse sido esticada. Foi logo dizendo que estava de viagem marcada para Paris, onde iria, segundo ele, cuidar da carcaça. Na verdade, ele era portador de um câncer em estágio avançado e deu para notar em sua voz um tom de despedida. Iria ao encontro do destino final, para viver com tranqüilidade os seus últimos dias. Não sei mais detalhes sobre aquele homem, nem que profissão exercera, ou o que fazia.
         Nos meus dezesseis anos, em 1958, em plena adolescência, eu era mais voltado para minhas próprias incertezas e inseguranças, mais preocupado com meu próprio ego. Andava sempre tenso, com medo de tudo e de todos, extremamente tímido. Essa tensão gerava um estresse que tornava a minha respiração curta e superficial. Minha voz saía sempre embargada e eu mal encarava as pessoas. Tentava desesperadamente superar essas dificuldades. Órfão de pai desde os 12 anos, eu sentia falta do apoio de alguém que me orientasse e me indicasse os caminhos para que eu pudesse me afirmar e ser eu mesmo, mais autêntico e verdadeiro.
            O Dr. Antônio passou-me a sensação de calma, segurança, otimismo, de fé e de esperança no ser humano em geral. Ysmar, mais intelectualizado, foi fazendo as perguntas que o Dr. Antônio respondia em detalhes e com muita paciência:
           _O que é a Cientologia, como começou, quem é o seu guru, quais são os objetivos, por quantos países está espalhada...

           A conversa transcorreu por algumas horas, ao fim do que ele nos deu o nome e o endereço de uma senhora, Regina de Toledo Moreira, que morava na rua Prado Junior, no Lido, posto 2 de Copacabana. Ali um grupo de pessoas se reunia, semanalmente, para estudar e discutir a Cientologia. Fez contato com ela e avisou que iríamos procurá-la.

           Passados alguns dias, liguei para o Dr. Antônio e pedi uma entrevista pessoal. Queria expor os meus problema e ouvir dele a palavra libertadora que permitisse o meu encontro comigo mesmo, para que eu pudesse desabrochar em todas as minhas potencialidades, já que, àquela altura, eu não sabia quem era, nem o que queria ou o que fazia aqui na Terra. Conversamos e ele me deu um conselho:

          _Já enterrou o cadáver? _Sim, respondi. 

        _Então está tudo resolvido, disse-me ele. É só tocar o barco para a frente que você chega lá.

        Cadáver enterrado, eu comecei a frequentar o grupo de Regina Toledo e a estudar a Cientologia. Ysmar não quis prosseguir, pois sendo espírita praticante, disse não concordar com alguns dos princípios expostos. Embora curioso, eu não cheguei a perguntar sobre o que ele não concordava.

           Fui muito bem recebido nesse Primeiro Grupo de Cientologia do Rio de Janeiro.

      Regina de Toledo morava com a mãe, uma senhora cujas maneiras demonstravam ter sido criada e educada com esmero e refino. Tinha ar aristocrático e me pareceu ter estudado ou vivido na França.
         Participavam mais assiduamente dos estudos de Cientologia o casal Hugo e Madalena Meacham, simpáticos, jovens, amigáveis e atenciosos e também a família Lima, outro casal com duas filhas adolescentes, Sylvia, um pouco mais velha e Lélia, da minha idade. De pronto fiquei impressionado com Lélia, loura, de olhos verdes, porte elegante, voz clara e pausada. Ao falar, demonstrava equilíbrio, domínio pessoal, ponderação, ritmo, elegância e principalmente segurança. Era tudo o que eu buscava e procurava.  Eu gostava de ficar ao lado dela, de conversar com ela. Nos  meus dezessete anos, preparando-me para ir estudar na AMAN, jamais teria a ousadia de propor um namoro ou mesmo pedir seu telefone. O máximo que fiz foi convidá-la para dançar a valsa da minha formatura do CMRJ, realizada no Clube Monte Líbano, no Leblon, ao som da Orquestra Ed Lincoln. A família Lima compareceu ao baile e esta foi uma das últimas vezes que vi a Lélia. 
L. Ron Hubbard em 1950
         O grupo, sob a liderança de Regina, assumira a missão de traduzir para o português o livro Dianética - Ciência da Moderna Saúde Mental, de L. Ron Hubbard (1911-1986), fundador da Cientologia, best seller nos Estados Unidos, escrito nos anos cinquenta. Hubbard era físico nuclear e escrevera sobre o comportamento humano, terapias e psicologia. Explicava que o raciocínio lógico e matemático o levara ao entendimento claro e preciso da alma humana e à facilidade de expor as suas complexidades.
         Eu gostava dessas reuniões. Elas sempre começavam com o que hoje se chama de meditação coletiva, dirigida por Regina, as cadeiras em formato de auditório. Ela chamava esse exercício de “Localização”:
         _Vamos nos localizar, deixar de lado todas as nossas experiências e atitudes externas e nos concentrar neste ambiente e no que estamos fazendo aqui e agora, . 
             Assim, ela ia conduzindo o pensamento do grupo, fazendo-o reconhecer e se concentrar em cada detalhe do ambiente, levando cada um a se situar naquele espaço físico e também em relação a cada uma das pessoas ali presentes, percebendo-as e cumprimentando-as e falando com elas para verificar que eram reais. O exercício parecia com o que eu estudara em Higiene Mental, quando relembrávamos fatos de nossa infância e recordávamos locais e ambientes onde havíamos sido felizes.
          Terminado o exercício, o grupo começava a discutir a tradução e a leitura dos trechos do livro, a dar opiniões e sugestões. Era algo novo, inusitado para mim e que muito me atraía.
         O fato é que terminei o ano de 1960, meio dividido. Sentia-me numa encruzilhada, entre dois destinos. O primeiro, o da AMAN – seguindo a carreira militar,  na tradição familiar, tanto do lado paterno quanto materno, onde meu futuro estaria garantido, bastando que eu me comportasse adequadamente. O outro caminho era o da incerteza, do mundo civil, onde teria que conquistar um lugar, competir.
         Hoje, repensando, não me arrependo de ter escolhido a carreira militar, pois pude evoluir bastante e devo muito do que sou ao Exército.
         A Cientologia faz parte da minha história. Em nossos estudos, nunca entramos no campo metafísico, na origem do ser, do universo. Diziam que, nos Estados Unidos, a Cientologia era uma igreja, uma seita, pela única razão de que as religiões ali são isentas de impostos, apenas por isso. Na realidade, pareceu-me que a Dianética era a parte terapêutica e a Cientologia era a parte religiosa.
          Porém, o processo terapêutico, chamado de processing ou auditing, dirigido por pessoas que já os tinham vivenciado, chamadas auditores, visava limpar dos traumas do passado a mente do cidadão comum, chamado de preclear (preclaro), de modo a torná-lo clear, (claro). Como eram tratamentos muito caros, justificavam dizendo que, por causa desse valor, esses iniciados dariam uma enorme importância à  experiência.
         A essas reuniões na casa de Regina de Toledo, freqüentava também um sobrinho de nome Pedro. Era jovem, solteiro, de tez morena, cabelos lisos e pretos, diziam, por essas características, já ter sido indiano em outras vidas. 
        Pedro resolveu se aprofundar na Cientologia e foi estudar na Inglaterra. Voltou alguns anos depois para aplicar seus conhecimentos no Brasil. Trouxe uma esposa inglesa e uma linda cadelinha chamada Prudence. Pedro saiu do Brasil como preclaro e voltou como auditor, com habilitação para aplicar o processing em outras pessoas. Dizia que a Cientologia tinha o objetivo de tornar  pessoas que já eram capazes, mais capazes, que ela visava elevar o tom emocional das pessoas, do nível mais baixo, da apatia, em escala crescente, até o mais elevado, da serenidade, proporcionado pelo pleno conhecimento de si próprio.
          Em 1964, já oficial, resolvi fazer o processing com Pedro. No fundo, era um tipo de psicanálise. Por cerca de três meses, em seções semanais, eu sentava em uma pequena mesa e Pedro à minha frente. O interessante era que eu, como preclaro, ficava o tempo todo da seção, segurando os terminais de um aparelho eletrônico chamado E-meter. Os terminais eram duas latas vazias, como as de leite condensado,  mas sem os rótulos. O aparelho eletrônico, com um ponteiro e escala, ficava voltado para o auditor. O princípio é o mesmo do detetor de mentiras. O ponteiro assinalava na escala o grau de emoção do paciente. Se determinado assunto despertava maior reação emocional, o ponteiro acusava e o terapeuta podia aprofundar  e estender as perguntas sobre o assunto. Como qualquer terapia, ele usava primordialmente o tempo da seção para escutar e falava pouco. 
       Continuei no processo até sentir que estava marcando passo, sem progredir ao nível que minha vontade desejava, mesmo sabendo que podia estar resistindo, sem querer me revelar, me abrir. Desse modo, suspendi o processo. Naquele tempo, além do início da carreira como Oficial do Exército, o que mais me importava na minha vida era meu namoro, meu relacionamento com a Helena, um assunto só meu.
      Depois desta experiência, só tive notícias da Cientologia através da mídia, mas sempre com enfoques sensacionalistas. Encontrei em uma livraria e logo comprei, o livro de Hubbard que estávamos traduzindo e ainda o tenho em minha estante.
      Esse período me foi muito importante para mim. Descortinou -me caminhos na busca de meu autoconhecimento, que muito me valeram para o resto da minha vida. 



OBS: 
   Há muita matéria na internet sobre Cientologia (Scientology), Dianética (Dianetics) ou sobre o seu criador, bem como nas enciclopédias livres (wikipedia, etc). Hubbard era também escritor de ficção científica. Seu livro Dianética vendeu mais de 20 milhões de exemplares no mundo. Há vários livros traduzidos para o português, que podem ser vistos na internet. Ao morrer em 1986, Hubbard deixou a Cientologia espalhada por 150 países. Muita gente famosa é adepta da Cientologia, como Tom Cruise, Pryscilla e Lisa Presley, John Travolta entre outros. 



           

10 comentários:

suzy Oliveira disse...

Querido Alberto,
gostei muito do tema da sua postagem, Os comentários que tenho escutado sobre essa filosofia são sempre negativas. Outro dia na Áustria perdi de fazer um trabalho porque a pessoa pensou (por eu ter usado no meu site o nome Ciência ela achou que eu pertencia a esse grupo. Depois disso fiquei curiosa para conhecer a cientologia. Agora, vindo de voce essa informação acredito que ela seja positiva, pois lhe conheço e lhe admiro muito como pessoa.
Abraços, Suzy

Lúcia Vasconcelos Lopes disse...

Amigo Bittencourt.
Achei muito interessante suas expriências com a Cientologia. Mas, tendo feito eu um Mestrado na Católica e cursado a disciplina "Religião e Psicologia" com um professor de renome internacional, me fez ele compreender (não sei quanto aos outros colegas) que, a Cientologia formanda por Hubbard com vista a formar uma seita, que findou a transformar-se em Igeja para muita gente boa. Entretanto, seus métodos são muio semelhantes aos da Psicanálise. Pricipalmente a trabalhada por Young. Estímulos e emoções em várias fases do crescimento físico do homem, apresentam passagem garantida por esse discípulo de Freud. Seus métodos de aferição das passagens no doficílimo mundo do incosciente ou mesmo da terrível porta do ego foram tornadas "científicas" via a utilização de aparelhos medidores das áreas que desejamos deixar "escondidas" neste inconsciente. A psicanálise, atravéz de seus mentores que efetivam os tratamentos, busca sentir, via uma estudada observação do sujeito em consulta, suas emoções da qual evitam falar ao terapeuta. No observar as maneiras que seus pacientes apresentam ou são motivados a apresentar, são feitas incurções mais profundas neste assuntos de difícil fala. Entretanto, meu caro amigo, penso que o que vale em qualquer tipo de tratamento ou trabalho, onde se busque o autoconhecimento é extremamante válido. O seu parece ter tido o sucesso que você buscava. Parabéns por isso. De vez que é extemamente dificil a posse desse autoconhecimento. Isso, sem falar-se de suas utilidades no trato com os seus pares em interação. Voltei um pouco ao passado de meus estudos, pois amo qualquer área que estude a mente humana. Obrigada pelo reestudo. E, continue assim empático. Um fraterno abraço da
Lúcia Vasconcelos Lopes.

ALBERTO BITTENCOURT disse...

Às queridas amigas Suzy e Lucia.
Há muita matéria na internet sobre Cientologia (Scientoloy), Dianética (Dianetics) ou sobre o seu criador, bem como nas enciclopédias livres (wikipedia, etc). Hubbard era também escritor de ficção científica. Seu livro Dianética vendeu mais de 20 milhões de exemplares no mundo. Há vários livros traduzidos para o português, que podem ser vistos na internet. Ao morrer em 1986, Hubbard deixou a Cientologia espalhada por 150 países. Muita gente famosa é adepta da Cientologia, como Tom Cruise, Pryscilla e Lisa Presley, John Travolta entre outros.
Abraços Alberto Bitencourt

GUSTAVO BITTENCOURT disse...

Gustavo Bittencourt
28/12/2012

Belo texto tio.

ELZA LUCIA disse...

Elza Lucia
29/12/12 (3 dias atrás)
Alberto,
feliz Ano Novo para você e sua família.
Obrigada pela aula de cientologia e por participar de suas reflexões...
Abraço.
Elza

LUIZ HORTA BARBOSA disse...

Muito legal
Abraços

JOSE HATERAS disse...

Meu Caro Alberto,
Agradeço seu e-mail sobre " MEU ENCONTRO COM A
CIENTOLOGIA ".
Realmente seu relato é muito interessante.
Um Grande
Abraço Háteras

JADE DANTAS disse...

Adorei o texto, Beto.
Aproveito para enviar meus votos de um 2013 de muita alegria, saúde e luz para você, Helena e toda a família (que já deve estar bem crescida).

ALEXANDRE INOJOSA disse...

Muito bom. Parabéns.

Anônimo disse...

Alberto, Parabéns pelo texto!

Aproveito para desejar a você e sua família, que 2013 seja de muita saúde, alegrias e prosperidade.
Abraços da parente do Sul.
Silvia Mallmann Guariglia